DOM Pedro II e a Moda Masculina na Epoca Vitoriana

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"Por que vós me vestis com roupas emprestadas?" Essa é a pergunta de Macbeth, quando estava destinado a tornar-se rei da Escócia, mas ainda não o sabia. Ao escolher tais palavras para o seu personagem, Shakespeare põe em relevo o papel das vestes na caracterização do soberano, que não pode trajar-se como os demais homens, conforme a crença de que o monarca é um indivíduo muito peculiar. Quando as forças superiores destinaram a Macbeth a coroa do reino, ele logo recebeu roupas especiais, pois o p oder do monarca é exercido, antes de tudo, no plano simbólico. São inúmeros os testemunhos artísticos que herdamos do passado no seu fausto, coroas de ouro sobre suas cabeças, ricos mantos sobre os ombros, cetros e orbes dourados nas mãos. Os imperad ores brasileiros também foram assim represenados. Não obstante, no Segundo Reinado, o cotidiano do monarca pouco teve a ver com essa forma de exercício do poder por meio de vestimentas. Dom Pedro II era um monarca que cumpria as suas obrigações como chefe de Estado e titular do Poder Moderador, mas dava preferência ao ambiente de livros e de revistas científicas. As festas e as oocasiões solenes entediavam-no irremediavelmente. Ele evitou o papel de padrão da moda e do bom gosto, que os monarcas europeus sempre assumiram, mas isso em virtude do seu interesse pessoal diante de pompas e frivolidades. É verdade que Dom Pedro II fez várias viagens ao exterior, nas quais se encontrou com outras cabeças coroadas. Nessas viagens, entretanto, ele d eixou transparecer claramente a sua tendência em direção a vestimentas menos protocolares. O presente livro do Prof. Dr. Marcelo de Araujo é, antes de tudo, um trabalho de refinamento intelectual, pois adentra o sutil universo dos significados expres sos por meio de pesados trajes negros, gravatas escuras, casacas, sobrecasacas e exuberantes comendas. Tudo isso é relacionado à trama política da época, aos cálculos monarcas anfitriões que hesitavam em aceitar honrarias brasileiras, receosos de obr igar-se a dar em troca suas condecorações nacionais de prestígio. O livro do Prof. Araujo é uma viagem ao universo das formas simbólicas e das relações entre agentes do poder que as manipulavam. Dom Pedro II é talvez o chefe de Estado brasileiro mais estudados pelos historiadoresm mas para a análise desse tema sofisticado foi necessária a atenção de um filósofo político, capaz de perceber a complexidade do cenário no qual o exercício do poder mescla-se com fortes inclinações pessoais. Com este e